quarta-feira, 10 de março de 2010

POR UMA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO DO CAMPO - parte I



A implementação de iniciativas como a Escola Ativa (Fundescola-SEIF/MEC; as Escolas Famílias Agrícolas e Casas Familiares Rurais (UNEFAB e ARCAFAR), assim como aquelas promovidas pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e outras experiências municipais demonstram a existência de um acúmulo de experiências que poderão auxiliar na discussão e estabelecimento de ações para a superação dos problemas relativos à educação do campo.
Por outro lado, a luta por uma Educação Pública de qualidade tem sido motivo de grandes manifestações organizadas por diversos movimentos sociais, entre eles, podemos destacar o trabalho da CONTAG e do MST que têm gerado profundas discussões e um acúmulo, inclusive em âmbito institucional como é o caso do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária - PRONERA8, criado em 1998, para atender as áreas de assentamentos de reforma agrária.
O trabalho desenvolvido em muitos municípios e pelos movimentos sociais, são iniciativas que demonstram a existência de um acúmulo de experiências que não podem ser desconsideradas no momento de definição de políticas de educação do campo. É desse conjunto que temos recriado o sentido do campo, Educação do Campo e dos seus sujeitos.
Uma Política Pública de Educação do Campo deve respeitar todas as formas e modalidades de educação que se orientem pela existência do campo como um espaço de vida e de relações vividas, porque considera o campo como um espaço que é ao mesmo tempo produto e produtor de cultura. É essa capacidade produtora de cultura que o constitui como um espaço de criação do novo e do criativo e não, quando reduzido meramente ao espaço da produção econômica, como o lugar do atraso, da não-cultura. O campo é acima de tudo o espaço da cultura.
Nas duas últimas décadas, essa denominação vem se expandindo para demarcar o campo, o papel dos sujeitos e a importância da educação na sua formação e do desenvolvimento do campo. Ela traz um conjunto de conhecimentos e práticas que instiga as políticas a compreenderem o campo como um espaço emancipatório, como um território fecundo de construção da democracia e da solidariedade, porque transformou-se no lugar não penas das lutas pelo direito à terra, mas também pelo direito à educação, à saúde, entre outros e essas lutas acabaram por colocar na pauta novas políticas culturais, econômicas e ambientais para o campo, mas não apenas para o campo.


FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO DO CAMPO


Muitas são as contribuições dos movimentos sociais e de diferentes educadores e pesquisadores para uma outra compreensão do campo e da educação. Estas reflexões situam-se, tanto no campo prático, quanto no campo teórico e, se posicionam em favor de dois aspectos:
I. A superação da dicotomia entre rural e urbano – não é preciso destituir a cidade para o campo existir, nem vice-versa. O campo e a cidade são dois espaços que possuem lógicas e tempo próprios de produção cultural, ambos com seus valores. Não existe um espaço melhor ou pior, existem espaços diferentes que co-existem, pois muito do que é produzido na cidade está presente no campo e vice-versa.
II. Relações de pertença diferenciados e abertos para o mundo - O sentimento de pertença é o que vai criar o mundo para que os sujeitos possam existir, se os sujeitos não se sentirem pertencentes ao campo ou à cidade não podem desenvolver suas competências, seus valores. Pertencer significa se reconhecer como integrante de uma comunidade e é este sentimento que faz com que possam defender as suas idéias, recriar formas de convivência e transmitir valores de geração a geração. São esses, sentimentos fundamentais na formação da identidade com o campo ou com a cidade.
Ao lutar pelo direito à terra e pela educação, os sujeitos vão recriando as suas pertenças, reconstruindo a sua identidade com a terra e com a sua comunidade. Isso é um demarcador de diferença entre campo e cidade, sem serem excludentes, porque os sentimentos dos que vivem na e da terra com todo o ecossistema não são os mesmos para os que vivem na cidade.
Por isso, a Educação do Campo, porque o papel do lugar é determinante como dizia o mestre Milton Santos (2001), “o lugar não é apenas um quadro de vida, mas um espaço vivido, isto é, de experiência sempre renovada, o que permite, ao mesmo tempo, a reavaliação das heranças e a indagação sobre o presente e o futuro” (p. 114).
Tanto a superação da dicotomia entre o rural e o urbano, quanto a necessidade de recriar os vínculos de pertença ao campo, são os dois elementos que fundamentam a Educação do Campo.
A sua concretização, porém, exige a implementação de políticas que compreendam a Educação e a Escola do Campo a partir de alguns princípios.


CONTINUA...

Fonte:

Grupo Permanente de Trabalho em Educação do Campo

Disponível em:
www.casacivil.pa.gov.br/procampo/.../079_
EDUCAÇÃO%20DO%20CAMPO%20X%20Educação%20Rural%...



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